Após atingir na semana passada o menor patamar desde
novembro de 2022, o preço do minério de ferro voltou a subir nesta semana,
impulsionado pelos preços do aço na China, principal mercado consumidor da
commodity. Mesmo com a recuperação dos últimos dois dias, analistas ouvidos
pelo Broadcast apontam que dúvidas sobre a demanda e a falta de
estímulos vigorosos no mercado chinês devem limitar uma recuperação mais
expressiva ao longo do ano.
No mercado futuro da Dalian Commodity Exchange, o contrato
mais negociado do minério de ferro para janeiro de 2025 fechou nesta quarta,
21, com alta de 1,21%, a US$ 99,5. Na Bolsa de Cingapura, o minério de
referência de setembro teve alta de 0,92%, fechando a US$ 95,50. Já em Qingdao,
a commodity registrou uma alta de 0,25%, a US$ 94,71.
Apesar da alta nesta semana, analistas ouvidos
pelo Broadcast duvidam da sustentabilidade do movimento de
recuperação no curto prazo, considerando que os fatores fundamentalistas que
levaram a queda na semana anterior seguem no radar do mercado, com a falta de
estímulo fiscal na China também pesando negativamente sobre as perspectivas de
demanda nos próximos meses.
O Citi avalia que a alta desta semana acontece em meio a um
maior esforço das mineradoras por reajustes e redução de descontos, mas o
movimento deve ter efeito limitado e os preços podem cair ainda mais nos
próximos meses. Em seguida, haverá uma nova recuperação impulsionada pelo
reabastecimento das siderúrgicas, o que deve acontecer no início de 2025.
O banco entende que a China provavelmente não implementará
políticas de flexibilização importantes para apoiar o setor imobiliário, o que
pesará na demanda pela commodity. “A China está em transição para uma economia
liderada por ‘novas forças produtivas’ que requerem menos aço”, dizem os
analistas do Citi.
A gerente sênior para metais da S&P Global Commodity
Insights, Adriana Carvalho, destaca que a alta dos dois últimos dias foi também
impulsionada pela recuperação nos preços do vergalhão. “A alta nos preços do
minério de ferro hoje pode ser atribuída simplesmente à recuperação nos preços
do vergalhão, que dispararam devido aos estoques relativamente baixos”, avalia.
Carvalho lembra que a confiança geral do mercado permanece
baixa, o que deve fazer com que as compras continuem limitadas, somada ao fato
de que a demanda de aço da China está em uma tendência estrutural de baixa no
longo prazo. “Enquanto algumas usinas de aço de baixa eficiência não forem
eliminadas do mercado, a rentabilidade da indústria não deverá melhorar”,
aponta.
Ela prevê que as importações de minério de ferro pelo país
desacelerem no segundo semestre do ano, pois a produção de aço continuará sendo
limitada até 2025 para se alinhar melhor com a demanda.
O CEO da Tarraco Commodities, Gilberto Cardoso, menciona que
a alta atual representa uma recuperação em relação à queda da semana anterior,
motivada pelo mercado que busca aproveitar preços considerados baixos para
repor estoques. “As importações permaneceram altas, indicando excesso de
oferta”, afirmou.
Tendência
O analista de commodities da Genial Investimentos, Igor
Guedes, prevê que as cotações da commodity devem registrar volatilidade, dada a
sua dependência em relação à construção civil chinesa, que vive um momento de
incertezas. Incentivos pontuais podem favorecer os preços, mas com impactos
limitados na economia real devido às deficiências persistentes do setor. Para
ele, os desafios enfrentados atualmente pelo mercado imobiliário mostram uma
necessidade de reformulação, que pode levar de cinco a seis anos para ser
executada.
No segundo trimestre de 2024, houve aumento nos embarques de
minério de ferro, decorrente da sazonalidade favorável no Brasil e do aumento
de produção da Vale. Contudo, Guedes aponta que as mineradoras precisam
reavaliar suas estratégias comerciais para evitar uma saturação no mercado
siderúrgico, visto que o excesso de oferta prejudica uma potencial recuperação
de preços.
A expectativa de Guedes é que a cotação do minério de ferro
deve ficar próxima da média de US$ 100, com uma projeção de fechamento anual em
torno de US$ 95. Ele justificou que os valores não devem reduzir muito, devido
ao impacto nos custos de produção das mineradoras menores. Por outro lado, não
devem aumentar significativamente por conta dos desafios na construção civil na
China.
Fonte: Dow Jones
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 22/08/2024