A balança comercial mostrou em agosto queda nas exportações
e avanço das importações, que nos últimos meses mostram mais claramente
aceleração acima do esperado inicialmente pelos especialistas. O quadro traz
expectativa de superávit comercial menor para 2024, mas ainda assim robusto e
com contribuição positiva no balanço de pagamento.
A balança comercial encerrou agosto com superávit de US$
4,83 bilhões, resultado de US$ 29,1 bilhões em exportação e US$ 24,3 bilhões em
importações, segundo divulgação a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).
A receita com embarques caiu 6,5% e a importação avançou 13% contra igual mês
de 2023.
No acumulado de janeiro a agosto, o superávit alcançou US$
54,1 bilhões. As exportações somaram US$ 227 bilhões e ainda cresceram 1,1%,
mas em ritmo menor que as importações, que alcançaram US$ 172,924 bilhões e
avançaram 6,6%, sempre contra igual período de 2023.
Abaixo do esperado, o superávit de agosto contribuiu para a
revisão das projeções para os próximos meses, devido ao “maior ímpeto das
importações”, aponta Gabriela Faria, economista da Tendências Consultoria. A
projeção da consultoria para o superávit comercial em 2024 passou de US$ 87,1
bilhões para 74,6 bilhões. A Secex projeta superávit de US$ 79,2 bilhões para
este ano,
“Mesmo considerando a redução das cotações de bens
intermediários e de consumo, os volumes comprados do exterior devem continuar
positivos, beneficiados pelo aquecimento da demanda interna. O maior consumo
tem impulsionado a produção industrial, sobretudo de bens de consumo duráveis e
de capital, influenciados pela continuidade do aumento da massa de renda e da
melhora das condições financeiras das famílias”, aponta a economista.
Herlon Brandão, diretor de Estatísticas e Estudos de
Comércio Exterior do Mdic, diz que o crescimento das importações “está
acelerando” ao longo do ano, em um movimento “disseminado” e “relacionado com o
aumento da renda e da produção nacional”. Umas das boas notícias, destacou. tem
sido o aumento da compra de bens de capital, que significa “contratação de
investimento futuro”.
“A alta da importação pode ser ainda mais acelerada pelos
sinais positivos de atividade”, diz Welber Barral, sócio da BMJ e ex-secretário
de Comércio Exterior. Ele destaca a importação de insumos e de máquinas e
equipamentos no período de janeiro a agosto. Pelos dados da Secex, o valor da
importação de bens de capital cresceu 18% de janeiro a agosto, com alta de
22,1% em volume, contra iguais meses de 2023. As compras externas de bens
intermediários avançaram 2,5% em valor e 13,6% em volume. “Isso está
relacionado fundamentalmente com o crescimento do PIB, mas deve ter impacto no
saldo comercial no final do ano.”
A expectativa é de saldos menores nos próximos meses, avalia
Welber Barral. Para o sócio da BMJ, o superávit em 2024 deve ser “de pelo menos
U$ 80 bilhões, resultado favorável ao balanço de pagamentos”.
Os dados da Secex apontam também alta de 28,9% na importação
de bens de consumo no acumulado até agosto. O dado, lembra José Augusto de
Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), foi muito
impulsionado no primeiro semestre por veículos vindos da China, com
desembarques antecipados em razão do calendário de aumento da tarifa de
importação, embora já tenha perdido força em julho e agosto.
Dados da Secex mostram que em junho a importação de veículos
chineses atingiu US$ 1,44 bilhão, mas em julho e agosto caiu para US$ 102,2
milhões e US$ 138,8 milhões, nessa ordem.
“Claramente as importações como um todo estão bastante fortes.
A incógnita no Brasil é se continuaremos importando ou daremos mais atenção à
produção doméstica”, diz Castro. Ele destaca que mesmo o câmbio não tão
favorável não tem sido suficiente para desestimular a importação.
Já a exportação, diz Castro, mostra em agosto que vem
perdendo mais força com a redução sazonal das exportações de soja, que devem
diminuir mais no decorrer dos próximos meses, até o fim do ano. “O milho também
já apresenta redução maior. E os preços dos grãos também estão em queda e
caíram muito. Não vemos força para subir. Então, a tendência é que esses preços
mais pressionados se mantenham até o fim do ano ou até o ano que vem.”
Pelos dados da Secex, o preço da soja caiu 12,8% em agosto.
O do milho recuou 18,2%. No setor extrativo, os recuos foram menores, segundo
Castro, mas ainda assim acima do esperado para o período. Os dados apontam
queda de 6% no preço do petróleo e de 6,1% no do minério de ferro, sempre em
agosto contra igual mês do ano passado.
“A força das importações e a fraqueza das exportações
fizeram o saldo da balança em agosto ser o menor de 2024”, diz Castro. A AEB
estima atualmente superávit comercial de US$ 77 bilhões em 2024, ante US$ 86,5
bilhões projetados inicialmente.
Para Brandão, da Secex, a queda de 6,5% do valor das exportações
totais em agosto foi influenciada principalmente pelo recuo de também 6,5% do
volume embarcado. Na divisão por produtos, os principais destaques negativos
nos valores exportados foram minério de ferro e soja, com quedas de 13,7% e
16,4%, nessa ordem, na comparação com igual mês de 2023. Apesar da queda em
agosto, no acumulado de janeiro a agosto, destaca Brandão, as exportações
bateram novo recorde em valor para o período.
Entre os destinos dos embarques, a China prossegue como
protagonista. O país asiático absorveu 30,5% de todos os bens que o Brasil
vendeu ao exterior de janeiro a agosto. Com isso, o Brasil fica, tanto do lado
das importações como das exportações, sob grande influência do que acontece com
a China, aponta Castro.
“Atualmente, com o excesso de estoque em vários produtos, a
China vende com preços baixíssimos no mercado e tudo isso vai influenciar o
amanhã. Só nós não temos ideia de quanto será influenciado, em que nível de
preço ou quantidade.” O aço, exemplifica Castro, é um dos produtos com grandes
estoques pela China, o que afeta a demanda do país asiático por minério de
ferro, um dos produtos mais importantes na pauta de exportação brasileira.
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 06/09/2024