
As lamúrias sobre a desindustrialização do Brasil são
justificadas, e o governo Lula faz muito bem em retomar um vigoroso plano de
neoindustrialização do país.
Mas é preciso tomar cuidado com algumas confusões. A
principal delas é inventar uma fantasia (e pior, acreditar nela) de que o
Brasil da década de 80 era altamente industrializado, e que fomos perdendo isso
ao longo das décadas seguintes.
Não é bem assim.
O Brasil da década de 80 era menos industrializado do que é
hoje. O percentual da indústria na economia brasileira caiu nos últimos 40 anos
não porque a indústria brasileira diminuiu, mas porque outros setores
avançaram.
Naturalmente, em todo esse tempo, muitas indústrias
morreram, caducaram ou transferiram atividades para outros países, mas outras
vieram, se desenvolveram e se instalaram no país.
Podemos ver esses dados em nosso comércio exterior, cuja
transparência sempre ajuda a ver as coisas com mais precisão.
Considerando apenas os produtos classificados oficialmente
como “indústria de transformação”, as exportações brasileiras atingiram o
recorde histórico de US$ 182 bilhões em 2024, um valor que representa um forte
crescimento sobre os anos anteriores.
Em reais, esse valor corresponderia, ao câmbio de 6 reais
por dólar (dia 12 de jan/2025), a R$ 1,09 trilhão.
A despeito de seu declínio na participação sobre o total e
do aumento dramático das vendas externas do agronegócio, as exportações de
produtos industrializados ainda correspondem a mais da metade das exportações
brasileiras.
Tudo bem que vários produtos classificados como “indústria
de transformação” possuem baixa complexidade, como açúcar, carnes e aço. Mesmo
assim, não me parece correto rebaixá-los tão implacavelmente, porque não sei se
a produção moderna de carnes exige menos tecnologia e complexidade do que a de
guarda-chuvas ou calças jeans.
De qualquer forma, a exportação de alguns produtos clássicos
e complexos da indústria brasileira de transformação, como aviões, veículos
rodoviários, químicos, máquinas com motor e aparelhos elétricos, também voltou
a crescer, alguns mais, outros menos, nos últimos anos.
E, sobretudo, os níveis de exportação desses produtos hoje
são muito superiores ao que víamos na década de 90.
Analisando o histórico das exportações de industrializados,
podemos combater ainda uma injustiça, igualmente comum durante algumas
campanhas eleitorais, de que os governos petistas contribuíram para a
desindustrialização do país.
Os dados não mostram isso.
A chegada dos governos petistas, a partir de 2003, viu um
fortíssimo aumento das exportações de industrializados, inclusive dos produtos
mais complexos, como veículos rodoviários, aviões, máquinas com motor e
aparelhos elétricos.
Houve uma queda moderada a partir de 2008, em função da
crise dos subprimes, mas a recuperação veio logo nos anos seguintes.
Mais importante: os números mostram um forte crescimento
desses mesmos setores nos últimos anos, incluindo uma excelente performance em
2024.
A exportação de aviões, por exemplo, voltou a crescer
vigorosamente e gerou US$ 4,36 bilhões em 2024, alta de 22,7% sobre o ano
anterior.
Alguns produtos complexos, como veículos, máquinas com motor
e aço, experimentaram ligeira queda em 2024, mas o nível continua bem mais alto
do que há 5 ou 10 anos.
A exportação de petróleo refinado, por sua vez, registrou
alta impressionante de 98% em cinco anos, prova de que a Petrobras está
conseguindo superar a campanha de destruição que sofreu durante a Lava Jato.
Dentre os produtos industrializados menos complexos, o
destaque vai para o açúcar, que vem registrando um desempenho realmente
incrível: em 2024, o Brasil exportou US$ 18,8 bilhões em açúcar, alta de 18%
sobre o ano anterior, e de 252% em 5 anos.
A propósito, o Brasil pode se orgulhar de ter o banco de dados de comércio exterior mais transparente, ágil e atualizado com mais rapidez, em todo o planeta.
Fonte: O Cafezinho
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 13/01/2025